PORQUE AMANHÃ É O DIA DO PAI

O que pensar agora , senão em ti Pai…
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Eis a minha carta para o meu Pai 

Dezasseis  anos de carta

  

São dezasseis anos  de carta.

Dezasseis anos de um improvável respirar.

Dezasseis anos de um tom róseo lilás.

Dezasseis anos de um ómega parado, aguardando um outro bater.

Dezasseis anos  em que disseste  que estavas muito, muito cansado e que irias repousar.

Dezasseis anos em que chamei a alquimia dos Deuses e da Medicina.

Dezasseis anos em que que quis que vivesses, para não  sofrer.

Desculpa o meu egoísmo. Desculpa os tubos, os  múltiplos ventiladores, as seringas, as camas gélidas, os corredores frios, as noites sós, a ausência, o estar sem estar.

Desculpa os livros que  não te li, a mão que não te dei , o parar que não  parei.

Desculpa o correr , o ir e vir, a ânsia de viver… tudo o que  já tinhas vivido, todos os lados que já conhecias, o quão perto da morte, já tinhas estado tantas vezes desde jovem .

Dezasseis anos em que me compreendes-te o suficiente para te libertares e descansares  por fim, por umas eternas horas , na tua cama , no teu quarto, no teu olhar, nas tuas  palavras.

Dezasseis anos em que olho e vejo um sorriso feliz, num rosto grisalho , num casaco cinza de caxemira, do nosso último Natal.

Dezasseis anos em que guardo o casaco e o Natal .

Obrigada Pai.

 Teresa Freitas in Infinita Leveza