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EU, MÉDICA

Oiço as conversas.
Reparo.
Olhares, lágrimas, palavras,
ali mesmo ao lado.

Retenho a luz de um outro ver,
um homem e uma mulher,
sentem e prolongam-se no olhar
curando as ausências,
no suave falar, no sereno sorrir.
É a vida mais pura.

Vejo aqueles a quem assinei o futuro,
tão próximo, ali na minha frente .
Têm filhos? Mulher?
Veio com a mãe, para lá dos 80 anos.
É a tristeza mais pura.

É o desabafo do outro,
filhos estranhos e não entranhados,
raízes a descoberto.
O esquecimento presente e não esquecido,
demência, pelo certo.
É o descrer mais puro.

Vejo-me a caminho,
o presente a mudar dentro de instantes.
É a vida mais pura
vagueando no rio da tristeza mais pura.
Será que me ouviram?
Tenho tantos outros a chamar.

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