O MEU PORTO: UM DIA NA BAIXA
Vá de elétrico. Lentamente no tempo. Veja o rio. Sinta a frescura e o ruído de fundo das gentes.
Pare quando descortinar os tons azuis dos azulejos, que no granito da cidade resplandecem de luz. Da Igreja do Carmo, à igreja dos Congregados, à estação de S. Bento.
Nas igrejas espreite primeiro, sente-se depois e sinta o encontro do azul com as talhas douradas, o incenso e a música de câmara em belos órgãos de tubo. O Barroco tão perto de nós!
Em S. Bento, os azulejos contam a nossa história e mostram as nossas gentes. Paramos no tempo. Sente-se o ritmo calmo das locomotivas. Falta tão somente o vapor!
Subindo ao descendo, tome o chá das cinco ao melhor estilo art deco no Hotel Infante Sagres: ferro forjado, vitrais e cristais em jardins e salas de belos mármores e imponentes escadarias. O toque antiquado do elevador, o empregado de libré, dá vontade de ficar!
Para decantar e continuar a encantar, vá à livraria Lello, muito próxima. Respire fundo, sinta o cheiro do papel e imagine uma serpiginosa escadaria de madeira trabalhada, rodeada de livros. Lembra papiros e iluminuras! Entramos com cuidado! Olhamos com veneração.
Depois, para abrir o olhar, siga para a Torre dos Clérigos e ganhe coragem para os 240 degraus. O rio, o casario medieval, salpicado de igrejas, mais ou menos imponentes e as vistas da cidade mais moderna e longínqua merecem-na!
Petisque a qualquer hora, nas múltiplas casas de “tapas” tradicionais, nas ruas estreitas das Galerias de Paris ou à volta da Praça dos Leões. Gosto de me sentar num pátio, com flores e velas, ao melhor estilo italiano, escondido sob o portão de ferro na” Reitoria”! Carnes de diferentes países, cozinhadas ao nosso modo, acompanhando os nossos vinhos e a música, nossa ou não!
Se preferir uma taberna ao melhor estilo português, em que a água só entra com reclamação da sineta, vá à “Badalhoca da Baixa” na rua da Picaria.
Fique pela noite dentro! Tudo acontece nas ruas das Galerias de Paris. O Porto de cinza e neblina tem agora outra luz. Dos imensos bares. Das muitas gentes, misturadas. Das múltiplas vozes, encontradas. Do entra e sai ou pára um pouco. Das músicas que chamam os corpos. Dos olhares e sorrisos. Está-se tão bem!